quarta-feira, 30 de junho de 2010

Espaços Sonoros Contemporâneos: Ruído Intransigente ou Arte Emergente?

    Os grandes centros urbanos estão permeados por enormes quantidades de decibéis, sejam por contas dos carros e maquinários ou por conta dos próprios seres humanos e suas grandes aglomerações. Essa massa sonora pela qual somos envolvidos diariamente nos afeta de maneira que nem conseguimos imaginar. Este é o chamado ruído, ou seja, sons emitidos no espaço sonoro em que vivemos e não nos agradam ou fazem bem.  Como há muita informação sonora não conseguimos mais distinguir com clareza as nuances sonoras e, por conseguinte, nos tornamos seres com ouvido seletivo e ficamos “surdos” aos sons do ambiente que realmente nos interessam. Esses ruídos podem também fazer parte de obras de alto teor artístico como a obra 4’33” de John Cage, que utiliza a paisagem sonora como elemento vivo da composição.
    Uma das formas de minimizar os problemas causados pela grande concentração de ruídos nos espaços sonoros dos grandes centros urbanos é a educação e conscientização das pessoas. É aqui que entra em ação o papel social do educador musical, pois através da conscientização de seus alunos através do refinamento auditivo promovido pela música e também por atividades especificas que visam a conscientização dos alunos quanto ao espaço sonoro em que vivem é que se consegue a médio prazo se reverter a poluição sonora instaurada nos grandes centros urbanos.
    O educador como o canadense Murray Schafer tem um excelente trabalho em cima da conscientização da poluição sonora nos centros urbanos. Schaffer utilizou os termos hi-fi e low-fi para designar ambientes que possuem muita concentração de sons (low-fi) e ambientes que possuem pouca concentração de sons, possuindo mais os sons da natureza (hi-fi). Essa diferenciação entre ambientes é importante para que se entenda o meio em que estamos vivendo, por que sempre achamos que quando vamos para o campo ficamos mais calmos e relaxados? 
    Um bom exercício para a percepção do ambiente sonoro é a criação de diários de sons para diferentes ambientes. Essa atividade faz com que os alunos compreendam melhor a diferença entre ambientes low-fi e hi-fi, além de fazê-los perceber o quão imerso em ruídos e poluição sonora estão. 
    Outro ponto a ser trabalhado é o silêncio, ele é um fator fundamental a ser compreendido, pois sem silêncio não há som e sem som não há silêncio. Ambos só podem ser valorizados se forem compreendidos. Uma atividade que ajuda a valorizar o silêncio e a qualidade dos sons produzidos é a de fazer com que os alunos fiquem em silêncio absoluto, depois que ficarem todos em silêncios fazer com que caia algum objeto pequeno no chão, fazendo com que eles compreendam o valor do silêncio e o quanto um pequeno som pode causar um grande estrondo num ambiente hi-fi.
    A referência do corpo junto ao som produzido é importante de ser colocada junto aos educandos, pois o corpo é também um emissor sonoro. Essa conscientização da emissão sonora feita por um corpo pode ser feita através de esculturas sonoras humanas, onde cada aluno emite um som diferente e reage de forma diferente aos outros sons. Isso faz com que eles percebam como eles mesmos reagem aos estímulos sonoros provocados por outros corpos, fazendo com que valorizem também o silêncio e os sons que lhes agradam.
    Os espaços sonoros também podem ser utilizados de forma artística através de instalações sonoras que através da intervenção humana ou da natureza promove tipos diferenciados de sons, transformando em música fatos que ocorrem em determinados ambientes. Por exemplo, existem instalações que através da ação do vento emitem certos tipos de som e dependendo da velocidade do vento os sons são mais ou menos intensos.
    É importante salientar que a educação musical pode conscientizar muito a população sobre os espaços sonoros e os conceitos de poluição sonora e paisagem sonora. A transformação do ruído em arte é uma questão de adaptação e criatividade. Espaços que são permeados por grandes quantidades de ruídos podem ter seus danos à saúde minimizados através de ações conscientes e também criativas. O mais importante é que através da Educação Musical conseguimos conscientizar e abrir as percepções sonoras dos alunos e fazer com que “enxerguem” através dos sons um mundo melhor e mais tranqüilo.

Um comentário:

  1. olá Thiago, tudo bem?
    estou passando no seu blog pra ver as novidades.
    muito legal o que você fala sobre a importância do educador musical para a conscientização auditiva dos alunos para que a poluição sonora diminua.
    abraços
    Márcia Crizol

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